sábado, 25 de junho de 2011

SÓ FALTAVA ESSA: EUCALIPTO TRANSGÊNICO!





A matéria abaixo publicada no Jornal Valor Econômico dá conta da movimentação da indústria papeleira para iniciar o plantio de variantes transgênicas de eucalipto. Se já não bastassem os problemas associados ao plantio extensivo de espécies tradicionais, as possíveis alterações que serão trazidas por mudas transgênicas vão certamente agravar os problemas existentes, que incluem a redução e poluição de reservas hídricas, a extinção de espécies e o trabalho escravo.

No caso brasileiro, a predisposição da CNTBIO de aprovar o uso comercial de espécies trasngênicas é indicativo de que o Brasil poderá ser um dos pontos focais da disseminação deste tipo de mutante genético. 

Eucalipto transgênico volta ao centro do debate






Tema que já gerou muita polêmica nas últimas décadas, a transgenia voltou com força à pauta da indústria de base florestal. Na próxima semana, biotecnologia e a utilização de organismos geneticamente modificados nessa área - com destaque para o eucalipto - serão temas de dois eventos, igualmente importantes para as empresas que usam a madeira como matéria-prima, que ocorrem em pontos opostos do globo. A proposta é retomar os debates em torno do uso de árvores transgênicas inteiras, rumo à possível adoção dessa tecnologia em escala comercial. Na Malásia, o FSC (do inglês Forest Stewardship Council), principal órgão certificador de manejo florestal sustentável do mundo, promoverá sua assembleia geral com o objetivo de debater as quase duas décadas de atuação do órgão. Na ocasião, o Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (Ipef), apoiado por Suzano Papel e Celulose, Duratex e pela Organização de Produtores Florestais da Nova Zelândia (NZFOA), levará à votação uma moção na qual sugere que se acelere o debate sobre o cultivo de florestas transgênicas. 

No Brasil, Porto Seguro (BA) sediará a conferência internacional da União Internacional de Organizações de Pesquisa Florestal (IUFRO), na primeira vez em que o evento ocorre na América Latina. Fibria; Veracel, produtora de celulose instalada no sul da Bahia e que tem como sócia a sueco-finlandesa Stora Enso; Klabin e International Paper patrocinam o encontro.

De acordo com a presidente da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), Elizabeth de Carvalhaes, é chegada a hora de avançar no debate sobre a aplicação da transgenia em florestas de eucalipto. "Há argumentos fortes para que esse assunto seja retomado", defende. Filiada ao FSC, a Bracelpa tem o direito de voto nos temas debatidos ao longo do evento. "Acreditamos que a agência certificadora deve liderar as discussões", afirma Elizabeth.

O debate sobre a exploração de árvores transgênicas pouco evoluiu nos últimos três ou quatro anos, embora as pesquisas tenham avançado de forma significativa, especialmente nos Estados Unidos. Um dos principais obstáculos tem sido a falta de consenso. O próprio FSC, em sua atual política, aprovada em 2000, proíbe o uso de organismos geneticamente modificados em áreas certificadas. "Um dos desafios está no FSC", conta a coordenadora técnica do Programa Cooperativo em Certificação Florestal (PCCF), do Ipef, Luciana Antunes. "Mas o mundo mudou de lá para cá e é necessário que exista mais diálogo sobre o assunto."

Atualmente, não existem florestas comerciais de eucalipto transgênico, embora inúmeras empresas, incluindo as grandes produtoras de celulose sediadas no país, e universidades - ou organismos vinculados - já tenham autorização concedida para o plantio com fins de pesquisa. Dentre os benefícios que a transgenia poderia gerar à cultura de eucalipto estão a redução de lignina, o que facilitaria a extração da celulose. Hoje, o Brasil já é reconhecido mundialmente como um dos líderes em termos de produtividade florestal e a adoção de árvores transgênicas deverá ampliar esses índices. "Há escassez de madeira no mundo", alerta a presidente da Bracelpa. "Nesse cenário, torna-se ainda mais importante que se volte a falar em transgenia em árvores."

Para Luciana, do Ipef, é possível que em quatro ou cinco anos essa prática já seja comercial. Embora os Estados Unidos liderem as pesquisas no setor, outros países, como Canadá, Nova Zelândia e alguns latino-americanos também encamparam pesquisas e poderão ocupar posição de destaque nas discussões internacionais.
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2011.