quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

CRÍTICA DO LE MONDE SOBRE FILME SOBRE A INDÚSTRIA DO JUNK FOOD

A tradução que se segue abaixo reflete um artigo publicado pelo jornal francês Le Monde sobre um filme que lançado na França sobre a indústria do junk food (que no Brasil recebe o nome carinhoso de "fast food").

Como francês não é o meu forte, os versados na língua de francesa, podem acessar o original no link http://www.lemonde.fr/cinema/article/2012/01/31/republique-de-la-malbouffe-don-quichotte-contre-l-industrie-agroalimentaire_1636370_3476.html.



A República do junk food: Dom Quixote contra a indústria de alimentos 

Seja na TV ou no cinema há incontáveis ​​histórias de notícias e documentários que alertam para os perigos que representam a desregulamentação econômica e a falta de escrúpulos dos diversos setores que corrompem, poluem ou envenenam o nosso mundo.

Consumidos regularmente e cuidadosamente, os relatos na forma de documentários causam certa ansiedade no mundo, de modo que as pessoas acabam se perguntando se não é a sua distribuição, em vez de os males de que se queixam que nos fazem mal. No entanto, não deveria ser necessários se queixar de que os autores querem abrir os olhos desinformados dos seus concidadãos sobre o abuso de que são vítimas, muitas vezes inconsciente ou, às vezes, por vontade própria. 

É a esta segunda categoria que se destina o documentário de Jacques Goldstein, cuja declaração - o declínio geral da qualidade de alimentos e culinária na França - é agora conhecida a qualquer um que espera um simples pão de presunto com manteiga, e que anseia ser servido com pão e presunto de verdade. 

Todo o ponto do filme, se de fato não sabemos ainda, é explicar por que isso é assim. Para fazer isso, o diretor segue passo a passo, Xavier Denamur, uma pessoa do ramo dos restaurantes, que se juntou a ele nos últimos anos numa cruzada contra a junk food nobre e a má sorte enfrentada pelos restaurantes tradicionais. Dom Quixote da faca e do garfo tem muito a fazer, porque quem contra ele não são moinhos de vento, mas representantes de ogrescos gigantes da indústria de alimentos e, depois deles, as forças políticas que atendem aos seus interesses.

A dupla, inclusive no filme, foca suas atenções em certa medida numa diminuição de tributos que foi dado ao setor dos restaurantes na ordem de 5,5%, a qual se provou ser menos um incentivo para a criação de novos empregos, mas mais um presente dado aos sindicatos e donos de cadeias de vendas de alimentos.

Esta abordagem econômica - o que mostra que esta isenção fiscal praticamente não resultou em preços mais baixos e nenhum benefício adicional para os empregados dessas empresas - é acoplado com uma abordagem nutricional (com nutricionistas oferecendo contundentes depoimentos sobre o desenvolvimento da obesidade) e cultural (a padronização do paladar), a qual sugere que o consumidor é estúpido o suficiente até para comer feno.

Se os espectadores vão começar a mastigar mais ou menos, por causa um documentário realizado com maestria não se sabe. Qualquer republicano que está pensando em comer corretamente encontrará suas preocupações mostradas neste filme, que perde e não muda. Mas pelo menos eles serão convidados a poupar um pensamento para aqueles que, cada vez mais em nosso país, estão menos preocupados com a qualidade de seus alimentos, mas, com a angústia de encher a barriga.