quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A GREVE DAS POLICIAS ESTADUAIS E O DILEMA DE APOIÁ-LAS OU NÃO

A erupção de greves de policiais militares em vários estados brasileiros está causando um grande transtorno aos governos e à população. Além disso, esses movimentos apresentam um novo desafio para os que se pretendem de esquerda, visto que o aparato de segurança existe para, no âmbito do Estado capitalista, reprimir a organização livre dos trabalhadores e os pobres em geral. 

O primeiro fato que me parece relevante é que parece ser essencial separar o policial da corporação e vê-lo como um servidor público. Se muitos, especialmente na classe média e nos partidos de esquerda, não conseguirem fazer isto é possível que tenhamos a materialização do que Karl Marx chamaria de "jogar a criança fora com a água suja do banho".  A  verdade é que o comportamento agressivo e truculento que o aparato policial utiliza no Brasil é um dos principais resquícios da ordem social criada desde o período colonial, e que foi amplificada pela ocorrência de vários períodos de ditadura desde que a república foi instalada, por um golpe militar é preciso lembrar, em 1889.  Neste sentido, é muito fácil culpabilizar o trabalhador/policial e não aprofundar a crítica à forma pela qual o Estado brasileiro manteve intacta a tradição repressiva do aparato policial para melhor gerir as relações de classe a favor dos ricos.  

Agora é preciso notar que o policial (civil ou militar) é um servidor público que tem sido especialmente aviltado do ponto de vista salarial e das condições de trabalho. Além disso, especialmente nas policias militares, ainda persistem códigos de conduta que remontam ao regime militar de 1964 e que contribuem para  que assistamos a seguidos casos de violação da lei por policiais, seja no cumprimento de determinações legais ou em atividades criminosas puras e simples. Em função disto nada justifica que se queira ignorar os pleitos salariais e de democratização das corporações policiais. Aliás, pelo contrário, apenas com melhores salários e relações mais democráticas será possível que os casos de transgressão não sejam empurrados para debaixo do tapete.

Por fim é lamentável o papel cumprido pelo PT no caso da greve dos policiais da Bahia. Ouvir as primeiras declarações do governador e ex-sindicalista Jacques Wagner me fez sentir um tremendo calafrio por notar que os discursos mais reacionários das elites brasileiras agora são ecoadas pelas mesmas pessoas que já sentiram no lombo as consequências deste atitude de desprezo pelos direitos dos trabalhadores.  O caso da Bahia me faz ter ainda mais certeza de que o PT definitivamente cruzou o precipício, tornando-se o principal partido de sustentação da ordem burguesa no Brasil.