quinta-feira, 7 de junho de 2012

Pressão para Cortes deixar secretaria de Saúde aumenta diante desabafo de médica

Por Redação - do Rio de Janeiro e Brasília


A presença do secretário de Saúde, Sérgio Cortes, no governo do Estado do Rio de Janeiro, foi abreviada até dezembro deste ano, quando deixará o cargo, após uma série de escândalos no setor, entre eles as fotos em que aparece com um guardanapo na cabeça, durante uma comemoração regada a bebidas em um hotel de luxo na capital francesa e outro, no início desta semana, quando uma médica do Hospital Rocha Faria, no subúrbio do Rio, faz um desabafo desesperado pela falta de condições de trabalho. No Ministério da Saúde (MS), onde a repercussão do fato é um ponto a mais de pressão para a renúncia de Cortes, segundo fonte ouvida pelo Correio do Brasil, as autoridades responsáveis pela fiscalização das unidades de saúde, tanto estaduais quanto municipais, têm sido chamadas a dar explicações sobre a realidade vivida pelo setor no Estado, a despeito de o governador Sérgio Cabral Filho ser um dos principais aliados do Palácio do Planalto.

– O repasse de verbas federais para o Estado do Rio de Janeiro está rigorosamente em dia e não há porque uma situação dessas, como vimos no hospital Rocha Faria, ocorrer em um dos Estados da Federação mais bem servidos de condições e equipamentos para atender à população – disse ao CdB uma alta autoridade do MS, que prefere guardar anonimato.

Cortes (E), aparece ao lado de Cavendish (C) em uma comemoração em Paris

A notícia de que Cortes deixará o governo, publicada pelo colunista Fernando Molica na edição desta quarta-feira do diário popular carioca O Dia, revela que “um dos principais alvos do deputado Anthony Garotinho (PR), Sérgio Côrtes vai deixar o comando da Secretaria Estadual de Saúde em dezembro. A decisão foi comunicada há duas semanas a Sérgio Cabral, que lhe pediu para ficar até o fim do ano: depois das eleições, o governador fará mudanças no secretariado. Côrtes não quer comentar a saída do governo, mas não esconde de amigos que o gesto está relacionado ao uso, por Garotinho, das imagens em que ele se diverte na Europa ao lado de Cabral e do empresário Fernando Cavendish, da Delta”, afirma o jornalista.

Segundo afirma o deputado e ex-governador do Estado do Rio, em seu blog, “enquanto Côrtes se diverte em farras na Europa, de guardanapo na cabeça, completamente bêbado, tomando uísque, vinhos caríssimos e champanhe francês, nos hospitais estaduais enfermeiros são obrigados a tomar as macas com pacientes que chegam nas ambulâncias do SAMU, simplesmente porque faltam camas e macas nas unidades. Por sua vez os pacientes que vêm nas ambulâncias do SAMU deixaram de ter acompanhamento de um médico. Apenas enfermeiros os atendem porque faltam médicos. Ao mesmo tempo em que Côrtes ia jogar no Cassino de Monte Carlo, hospitais estaduais fechavam as portas deixando a população entregue à própria sorte”.

A médica Ângela Tenório faz um desabafo contra a situação em que se encontra a secretaria dirigida por Cortes

O parlamentar refere-se à situação encontrada por uma equipe da TV Record no hospital Rocha Faria, onde a única médica disponível para o atendimento de dezenas de pacientes na unidade fez uma desabafo emocionado, em um alerta contra a falência do sistema público de saúde. Carioca de 58 anos e 23 de profissão, a médica Ângela Tenório sempre trabalhou em hospitais públicos e há três anos está na emergência do Rocha Faria.

– Numa emergência só chegam pacientes graves. Não é consultório. Não é ambulatório – explicou aos jornalistas, nesta manhã.

Naquela noite, pelo menos três médicos deveriam estar no pronto-socorro. Mas a doutora Ângela estava sozinha.

– Deu entrada um infartado e um suicida. Então, são dois casos bem distintos e você tem que socorrer os dois ao mesmo tempo.

A médica lembra que, sem condições mínimas de trabalho, ela precisou dar uma satisfação a quem esperava há horas por um médico.

– Eu me senti no lugar dos pacientes. O sofrimento desse povo marcado pelo descaso. Isso me tocou. Me revoltou.

Segundo Ângela, que ganha R$ 4,1 mil por mês, os médicos estão fugindo dos hospitais Públicos.

– Não existem médicos, os médicos não querem mais trabalhar. Pelo salário, pelo o que estão pagando, ninguém quer mais trabalhar. É muito desgaste. É estresse.

Presidente do sindicato dos médicos do Rio de Janeiro, Jorge Darze concorda com a colega que o baixo salário tem sido um fator inibidor da presença dos médicos nos hospitais públicos.

– Esse médico da administração pública, somado ao ambiente de trabalho degradado que esse médico fica exposto, é uma realidade completamente adversa do que nós chamamos do exercício etico profissional.

A médica informou também que até o momento está trabalhando normalmente e que por enquanto não foi chamada para dar explicações à direção do hospital. Para a médica, a declaração não teve nada de heroísmo, “foi apenas sinceridade”:

– E não me sinto corajosa, eu acho assim que eu me sinto mais no dever do cumprimento da cidadania. Não precisa ter coragem pra exercer a cidadania. Tem que exercer. Não precisa coragem.

A Secretaria Estadual de Saúde apurou com a direção do hospital Rocha Faria que havia superlotação na unidade na quarta-feira passada, quando foram feitos 497 atendimentos na emergência. O número é quatro vezes maior do que a capacidade, que é de 120 atendimentos por dia, fato que vem se repetindo desde o fechamento do Hospital Pedro II, em Campo Grande, devido a um incêndio, no final de 2010. Em nota oficial, Cortes diz que a médica Ângela Tenório estava equivocada e que sua equipe estava completa, mas que assim mesmo não haverá punição da profissional.

Assista aqui ao vídeo da reportagem, na íntegra
 
 
 
 
 
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