quinta-feira, 19 de julho de 2012

PAULO LEMINSKI: UM DAQUELES PERSONAGENS QUE PASSARAM RÁPIDO MAS QUE SÃO ETERNOS



Paulo Leminski foi uma pessoa genial e seu fogo queimou profundo por breves 44 anos, 9 meses e 11 dias. Mas quem nunca leu ou ouviu Leminski não sabe o que perde. Com Leminski compartilho um pouco da natureza mestiça ainda que a mistura que os poloneses ancestrais fizeram seja diferente. Eu o vi falando num filme chamado "Vida e Sangue de Polaco" e nunca mais esqueci aquela voz mansa e firme. Nunca tive a chance de conhecê-lo pessoalmente, mas recentemente me descobri sentindo saudade das coisas que ele escrevia, meio estranhas e sempre muito geniais.

Além de poeta, foi escritor, tradutor e professor, Leminski também um grande biógrafo, tendo escrito as biografias de nomes como Cruz e Sousa, Edgar Allan Poe e Trotski.


Paulo Leminski também escreveu letras de música em parcerias com Caetano Veloso e o grupo A Cor do Som. E de qubbra Leminski também era faixa preta de Judô.


Como muitas outras perdas que aconteceram antes da globalização neoliberal nos inundasse com lixo intelectual, redescobrir Leminski é redescobrir fragmentos daquilo que ainda poderemos ser!

Mas como Leminski só pode ser entendido por aquilo que escrevia, abaixo vão algumas coisas bem leminskianas!


Um bom poema leva anos
Um bom poema 
leva anos
 cinco jogando bola, 
mais cinco estudando sânscrito,
 seis carregando pedra, 
nove namorando a vizinha, 
sete levando porrada, 
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade, 
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto.


Bem no fundo


No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

 a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela -- silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás nã há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.



Para a liberdade e luta

Me enterrem com os trotskistas
na cova comum dos idealistas
onde jazem aqueles
que o poder não corrompeu

Me enterrem com meu coração
na beira do rio
onde o joelho ferido
tocou a pedra da paixão.