sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Feijoada chinesa: feijão preto agora vem da China


Feijão chinês ganha espaço na mesa do brasileiro

Nestor Tipa Júnior 

Consumo no país aumentou, enquanto a produção nacional diminuiu em razão de o agricultor dar prioridade à soja

Cultivo de feijão no Brasil teve pouco avanço tecnológico, sem grande aumento de produtividadeFoto: Roberto Witter / Agencia RBS


Nesse cenário, a China aumenta em ritmo acelerado a participação no mercado nacional, mesmo no prato mais típico da mesa brasileira.Enquanto em 2009 os chineses enviaram 11,63 mil toneladas de feijão para o Brasil, só até setembro deste ano o volume de importação, conforme o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, foi de 100,5 mil toneladas do grão. Os argentinos, porém, ainda lideram com 101,3 mil toneladas do produto importado nos primeiros nove meses do ano.

Conforme o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, o preço está entre os fatores que motivaram essa alta nas importações do produto chinês. No ano passado, o valor da saca de 60 quilos vinda da China era de R$ 60, enquanto no Brasil, custava R$ 85. Além disso, a qualidade do grão asiático melhorou nos últimos anos.

"Hoje, os preços pagos pelo feijão chinês chegam a R$ 130 a saca, pois o produto se valorizou em razão da demanda maior por causa da queda da produção, não só no Brasil, mas em todo o mundo, devido à troca do feijão por outras culturas, como soja" diz Brandalizze.

Demanda maior também eleva preços do grão

Especialistas avaliam ainda que houve reação no consumo per capita do produto nos últimos anos em 2005, era 12,8 quilos por habitante e, em 2011, chegou perto dos 18 quilos. Só a produção nacional não será suficiente para atender ao consumo.

"A produção de feijão na última safra ficou abaixo dos 3 milhões de toneladas no país, enquanto o consumo neste ano está estimado em 3,7 milhões de toneladas" afirma o analista da Correpar Corretora e consultor da Câmara Setorial do Feijão, Marcelo Lüders.

Neste ano, o Brasil já importou 233,5 mil toneladas de feijão, ante 207 mil toneladas de 2011. A situação se reflete no preço ao consumidor. Conforme a Fundação Getulio Vargas (FGV), o feijão teve alta de 40,32% nos últimos 12 meses para o consumidor de Porto Alegre.

"Isso se deve à redução de oferta, tanto por causa da diminuição de área plantada quanto pela quebra de safra causada pela seca" destaca o coordenador do escritório regional do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, Márcio Mendes Silva.

Para os produtores, o mercado não é tão atraente quanto o da soja, em que há demanda por exportações e pela venda antecipada do grão. Além disso, pouco se avançou em tecnologia na cultura, o que não permitiu grande aumento de produtividade, segundo Dulphe Pinheiro Machado Neto, gerente técnico da Emater:

Em 1970, foram colhidos 259 mil hectares com produtividade de 943 quilos por hectare. Hoje, mal passamos de mil quilos por hectare.