terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Greve de fome em frente à TV Globo completa 48 horas e segue adiante por vítimas do Pinheirinho

O jornalista Pedro Rios Leão permanece algemado há 48 horas a um mobiliário urbano, em frente à sede da Rede Globo, no Jardim Botânico, Zona Sul da cidade, e pretende seguir em greve de fome contra a atuação da Polícia Militar paulista em Pinheirinho, no município de São José dos Campos, interior paulista. Sentindo-se “meio estranho e cansado”, o manifestante acredita que seu sacrifício é uma forma de alertar às autoridades para o “crime perpetrado contra uma comunidade pacífica, atualmente refém da PM do governo de São Paulo”.

– Minha maior arma é o constrangimento porque passa a TV Globo, que simboliza a mídia conservadora e maniqueísta que escondeu o massacre cometido pela polícia e por agentes da guarda municipal de São José dos Campos. Houve mortes em Pinheirinho e ninguém denunciou isso. Minha greve de fome tem o objetivo de denunciar os atos de barbárie cometidos contra uma população desarmada. Meu protesto é para que o governador Geraldo Alckmin seja preso. Que os desembargadores que assinaram a ordem para que a violência ocorresse sejam presos. Que o proprietário daquelas terras, o especulador Naji Nahas seja preso – protesta Leão.

Exposto às intempéries, como a chuva forte que caiu sobre o Rio de Janeiro no final da tarde desta terça-feira, Pedro Rios Leão não conta com qualquer abrigo “exceto o apoio de todos aqueles que estão aqui ao meu redor”, disse. Uma pequena multidão, com 26 pessoas, cercavam o jornalista no início da noite.

– Passou há pouco um carro da PM aqui do Rio e conversei longamente com o oficial responsável aqui pela área do Jardim Botânico. Ele assegurou que meu protesto é legítimo e não haverá, da parte dele, qualquer iniciativa no sentido de interrompê-lo – relatou.

Perguntado pelo Correio do Brasil até quando pretende seguir adiante com a greve de fome, Pedro Rios Leão disse que 48 horas ainda é pouco tempo para avaliar a extensão do movimento.

– Cresce à cada minuto o apoio de todos a este protesto. Tenho certeza que o vídeo divulgado na internet já chegou à Presidência da República e espero uma intervenção federal em Pinheirinho, para livrar os habitantes do jugo policial em que se encontram, como forma de atender a essa reivindicação mínima para o encerramento da greve de fome.

Embora a Rede Globo não tenha citado, em nenhum dos noticiários, o fato que ocorrem na porta da frente de sua sede nacional, jornalistas da emissora procuraram o colega para se solidarizarem com o protesto em curso. Pedro Rios Leão segue revoltado com o silêncio da mídia conservadora.

– O sistema político-econômico parece começar a enfraquecer e da mesmo forma o sistema midiático brasileiro começa a ser questionado cada vez com mais veemência. A Justiça não vai fazer nada, eu estou em frente a Globo porque é o último ponto de resistências deles, e o máximo que eles vão fazer é abafar o caso, mas não deixo isso acontecer porque estou aqui – afirmou.

Assista ao vídeo com a entrevista de Pedro Rios Leão:



Fonte: http://correiodobrasil.com.br/greve-de-fome-em-frente-a-tv-globo-completa-48-horas-e-segue-adiante-por-vitimas-do-pinheirinho/368296/#.TyhhCHNd4QA.facebook
TRABALHADORES DA INDÚSTRIA DA CARNE BOVINA VIVEM SOB RISCO CONSTANTE

O brasileiro adora carne bovina e o churrasco é o esporte nacional. Mas o que poucos param para pensar é que é os trabalhadores que trabalham nas plantas industriais dos frigoríficos enfrentam um alto nível de estresse e riscos diários.  O mais problemático dessa situação é que os frigoríficos mantém um forte controle sob o trabalho e a condição dos trabalhadores raramente é motivo de preocupação do público consumidor.

Mas a notícia abaixo deveria servir como uma demonstração de que como as condições de trabalho no setor da carne e do couro bovino são perigosas. Há ainda que se atentar que esse acidente mortal ocorreu dentro de um curtume do Grupo Marfrig que hoje é, na prática, o segundo maior grupo nacional deste setor, perdendo apenas para o JBS/FRIBOI.  Assim, se no Marfrig um desastre acontece, sem que se saiba ao certo a causa, imagine-se o que acontece em plantas pertencentes a grupos menores.

Pense nisto ao devorar a sua próxima picanha!


Número de intoxicados por gás no Mato Grosso do Sul pode passar de 30; 4 morreram


Em Campo Grande


Pode passar de 30 o número de trabalhadores intoxicados com um gás ainda não identificado, que vazou das instalações do frigorífico Marfrig, no Mato Grosso do Sul. O comandante do Corpo de Bombeiros no Estado, coronel-PM Ociel Ortiz Elias, informou que quatro operários morreram e três foram transportados para um hospital de Presidente Prudente (SP) em coma induzido. Os demais estão sendo atendidos em hospitais da cidade e região.

Ele explicou que até o momento 28 pessoas foram atingidas pelo produto, em consequência de um acidente, ocorrido logo após explosão na seção de curtume da empresa situada no município de Bataguassu, a 335 quilômetros de Campo Grande, na região leste do Mato Grosso do Sul, divisa com São Paulo.

Em nota, a empresa diz que o vazamento foi controlado. Veja íntegra da nota oficial sobre o caso:

A Marfrig informa que o acidente envolvendo a unidade de curtume no município de Bataguassu (MS) já foi controlado. Três funcionários atingidos foram removidos para Presidente Prudente (SP) e os demais estão sendo atendidos pela Santa Casa local. Alguns já foram liberados e outros permanecem em observação. Quatro funcionários da unidade vieram a óbito.

O curtume foi evacuado e, em conjunto com a polícia civil e técnica, causa do acidente está sendo apurada. Informações preliminares indicam que houve uma reação química decorrente de manipulação de insumos inerentes da atividade de curtume. Executivos da empresa estão no local empenhados na prestação de atendimento aos funcionários atingidos e suas famílias. A unidade frigorífica de Bataguassu, próxima ao curtume, não foi atingida pelo acidente e continua funcionando normalmente. Assim que as informações estiverem esclarecidas a empresa voltará a informar.

Nos escombros do jornalismo

Por Sylvia Debossan Moretzsohn 


O que pode qualificar e legitimar o exercício do jornalismo é a sua capacidade de transmitir informações confiáveis mesmo nos momentos de maior tensão. Inclusive na televisão, embora esse meio seja muito mais permeável às armadilhas do espetáculo, por motivos óbvios.

Canais por assinatura dedicados ao jornalismo, como a Globonews, deveriam escapar a essa armadilha. Porém, esse canal várias vezes cedeu a ela, no episódio do desabamento de três prédios no Centro do Rio, na noite de 25 de janeiro.

Passado o impacto inicial, agravado pela surpresa inevitável de se ver uma construção antiga e sólida vir abaixo e levar consigo outras duas igualmente bem conservadas, a cobertura das operações de salvamento precisaria ser acompanhada da tentativa de identificação das causas do desastre, o que requer serenidade e identificação das fontes adequadas para opinar.

Algumas dessas fontes foram acionadas: representantes do CREA-RJ, do Clube de Engenharia e outros especialistas. No entanto, era fácil transformar o que eles diziam em sentenças condenatórias que corroboravam a tese eleita desde o primeiro momento pela imprensa, de forma geral: a de que as obras realizadas no nono andar do prédio maior foram a causa da tragédia.

O que diziam os especialistas? Que as obras eram irregulares ou ilegais. O que isso significa? Que as obras não estavam regularizadas, não estavam dentro da lei, não tinham um engenheiro responsável ou o registro necessário. Nada autorizava a concluir que, apenas por isso, fossem obras malfeitas. Entretanto, esta foi a conclusão automática, martelada até o limite do insuportável nas redes de televisão.

O mesmo ocorreu com os comentários sobre a irregularidade na abertura de janelas na parede lateral originalmente cega do edifício, como se isso pudesse causar abalos estruturais. Chegou-se mesmo a dar voz a um médico que filmou o prédio, tempos atrás, e que agora viria a comparar aquelas janelas a fissuras no esqueleto humano. O momento da fratura/desabamento seria, segundo ele, apenas questão de tempo.

Espalhando desinformação

Talvez guiados por uma percepção enviesada de prestação de serviço público, e partindo da ideia de que todo fato deve ser traduzido para o interesse imediato das pessoas comuns, os jornalistas começaram a especular sobre os riscos que, subitamente, todos passamos a correr em nossas casas. Particularmente notável foi a entrevista conduzida pela apresentadora do Jornal das Seis, da mesma Globonews,com um desses especialistas que, em vez de esclarecer – e de enfrentar o ônus de contrariar a tese proposta pela jornalista –, entrou no jogo e reiterou o discurso de que “as pessoas” preferem economizar e não contratam profissionais adequados para fazer suas reformas.

Como assim, “as pessoas”, se o caso em questão dizia respeito a uma empresa de tecnologia estabelecida num prédio comercial?

E pobres dos pedreiros e mestres de obra, desqualificados como não-profissionais, ou profissionais de segunda linha, sem bom senso nem experiência acumulada.

Naturalmente não ocorre a ninguém perguntar qual era a qualificação dos responsáveis pela construção do Edifício Palace 2, do falecido incorporador Sérgio Naya. Ou pelos prédios que caíram em Belo Horizonte, depois das chuvas do mês passado. Só para ficarmos em dois exemplos, um recente, outro nem tanto.

Ao mesmo tempo, deplorava-se a ausência de fiscalização e apelava-se para o estrito cumprimento das normas, numa cidade cercada por favelas, que, por definição, estão à margem da lei.

Corpos no depósito do entulho

Paralelamente, a cobertura sobre o resgate de vítimas e corpos trilhou o caminho habitual do apelo emocional exacerbado – nas entrevistas com os parentes angustiados pela expectativa de notícias, reunidos na Câmara Municipal, e, em especial, nas perguntas aos sobreviventes – “o que lhe passou pela cabeça quando você estava debaixo dos escombros?” – repetidas até que o close da câmera possa colher um soluço ou uma lágrima.

Inversamente, uma notícia chocante foi dada como se fosse a coisa mais natural do mundo: o 13º corpo foi encontrado já no depósito da Comlurb para onde estava sendo transportada a montanha de entulho. No dia seguinte, diante da ausência de informações sobre os cinco desaparecidos, sugeria-se que também estes poderiam estar por lá, misturados aos escombros. Talvez carbonizados, certamente mutilados.

Depois, a notícia de que esses corpos talvez nunca sejam encontrados.

Não seria o caso de se perguntar pela qualificação do trabalho de resgate, tendo em vista que o desastre ocorreu em área restrita, muito diferente – por exemplo – do que aconteceu na região serrana?

De um lado, alimenta-se a perplexidade. De outro, aceitam-se as explicações oficiais para um fato no mínimo surpreendente. Isso, num canal pago dedicado exclusivamente ao jornalismo.

“Interatividade” irresponsável

Criticar o que circula pela internet já exige outro esforço, mas um detalhe, pelo menos, mereceria menção aqui, porque se refere ao principal jornal carioca. Dias depois do desabamento, descobriu-se que o primeiro prédio a cair, construído no início dos anos 1940, tinha um recuo nos últimos andares, que desapareceu depois de uma reforma, supostamente na década seguinte. Ato contínuo, O Globo, em sua página no Facebook, publica as duas imagens (estilo “eu era assim, fiquei assim”) com o seguinte enunciado e a posterior indagação: “Foto da década de 50 mostra que prédio sofreu diversas modificações antes de desabar (http://migre.me/7IdMQ). Você acredita que essas mudanças possam ter causado o acidente?”

Deve ser isto que chamam de “interatividade”.

Já no início dos anos 1970, Pierre Bourdieu escrevia um artigo com o provocativo título “A opinião pública não existe”, em que desmontava a lógica perversa das pesquisas de opinião, baseadas na concepção de que todos devemos ter opinião sobre algo e, pior, que todas as opiniões se equivalem.

Nenhuma surpresa que essa lógica se dissemine no espaço virtual, embora, por sorte, haja sempre algum lampejo de inteligência. Pois, em meio a tantas bobagens, alguém respondeu: “Não sei. Sou brasileiro, mas, diferente dos outros 190 milhões, não sou engenheiro”.


[Sylvia Debossan Moretzsohn é jornalista, professora da Universidade Federal Fluminense, autora de Pensando contra os fatos. Jornalismo e cotidiano: do senso comum ao senso crítico (Editora Revan, 2007)]

AS RAZÕES OBSCURAS DAS ORGANIZAÇÕES GLOBO PARA OCULTAR A MANIFESTAÇÃO DE BOMBEIROS E POLICIAIS

As Organizações GLOBO possuem uma longa ficha corrida de ocultação da verdade, e até da fabricação de versões da verdade.  Apenas tomando alguns exemplos é possível lembrar da ocultação da Campanha das Diretas Já em 1984 (http://www.ibamendes.com/2011/01/rede-globo-e-sua-omissao-na-diretas-ja.html), a tentativa de legitimar a fraude eleitoral que se tentou contra Leonel Brizola naquele mesmo ano (http://www.fazendomedia.com/globo40/romero11.htm), e até da edição do debate entre Fernando Collor e Lula em 1989, o qual acabou jogando um papel decisiva na derrota do PT (http://ucho.info/boni-admite-que-rede-globo-manipulou-debate-entre-collor-e-lula-em-1989).

É bom lembrar que em cada um desses casos, a ação das Organizações GLOBO servia a propósitos bem definidos e aos interesses daqueles grupos que dominam o Brasil desde o período Colonial, impondo em nosso país uma ordem desigual e excludente.

Neste sentido, não há nada de novo na ocultação da manifestação que levou milhares de policiais, bombeiros e simpatizantes à ocupar a Praia de Copacabana no domingo que passou.  O problema que deveria estar preocupando a liderança do movimento e todos aqueles que defendem que policiais e bombeiros recebam salários dignos e deixem a condição humilhante de possuírem os piores salários do Brasil é que esta ocultação da verdade certamente obedece a interesses estratégicos do governo Sérgio Cabral. E estes interesses certamente envolverão o uso da repressão contra as lideranças, como já vem ocorrendo desde que este processo de campanha salarial se iniciou.

A única dúvida é de quem deverá levar a cabo a repressão sobre policiais (civis e militares) e bombeiros. Será o Exército ou a chamada Força Nacional. Mas antes que isso ocorre é possível que se noticie algum crime bárbaro cometido por um dos líderes do movimento. Esperemos e vejamos o que acontece. Afinal de contas, das Organizações GLOBO, tudo pode ser esperado.
AROEIRA MOSTRA O NOVO SISTEMA DE ALARME DO VICE-GOVERNADOR DO RIO DE JANEIRO..


segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

CARLOS MINC E INEA, TÃO RÁPIDOS PARA LIBERAR LICENÇAS PARA MEGA POLUIDORES, CORREM ATRÁS DO PREJUÍZO QUANDO SE TRATA DE ACOMPANHAR O CUMPRIMENTO DAS LEIS E PROTEGER A POPULAÇÃO DO RIO DE JANEIRO


Que o sistema estadual de proteção ambiental do Rio de Janeiro deixa a desejar já está patente desde os deslizamentos que ocorreram em 2010 na Ilha Grande. Depois disto, veio a catástrofe na região serrana, onde a ineficiência saltou aos olhos. Agora todo cidadão carioca vive se perguntando quando explodirá o próximo bueiro, e quantos morrerão por causa disto. Mas agora, como mostra a notícia abaixo publicada pelo Jornal O DIA, também explodem cisternas.

E como sempre acontece depois que o leite já foi derramado, aparece o (des) secretário de Meio Ambiente, Carlos Minc,  e os dirigentes do Instituto Estadual do Ambiente (INEA) prometendo mover céus e mares para cobrar o cumprimento de algo que já deveria estar sendo cumprido.

Pois bem, o que a população do Rio de Janeiro deveria ter por parte da Secretária Estadual de Meio Ambiente e do INEA era a mesma celeridade e dedicação que recebem as corporações privadas como Companhia Siderúrgica do Atlântico e o Grupo EBX. 

Mas que ninguém se iluda, se depender apenas da boa vontade de Carlos Minc e de seu chefe, o (des) governador Sérgio Cabral, isto não vai acontecer. Minc talvez até descubra algum outro criadouro clandestino de javalis para dar uma batida. Afinal de contas, bater de frente com os que poluem e colocam a vida da população em risco não é o forte dele.

Após explosão, Inea notifica empresas que atuam na Zona Portuária


Rio - O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) emitiu auto de constatação para a Triunfo Logística, pela concentração em quantidade ainda não determinada de óleo combustível em uma galeria de águas pluviais, na área de operação da empresa, no Armazém 30, do Cais do Porto. A companhia Docas também foi notificada a fornecer um mapeamento da região ao órgão ambiental. A explosão matou uma pessoa e feriu outras duas.

O objetivo é identificar possíveis proximidades com oleodutos ou outras fontes que possam ter originado o vazamento do óleo que, supostamente, causou a explosão ocorrida na manhã desta segunda-feira e que provocou a morte de um dos funcionários da Triunfo e deixou outros dois gravemente feridos. Agentes do Serviço de Operações Emergenciais (Sopea) e da Gerência de Risco Ambiental (Diram) do Inea farão nova vistoria no local do acidente na manhã desta terça-feira.

As causas da explosão ainda estão sendo investigadas, mas conforme parecer inicial dos agentes do Inea que estiveram no local, a quantidade de óleo que vazou para a galeria é considerável. O dano ambiental, no entanto, foi controlado, porque na saída da galeria para a Baía da Guanabara estava posicionada uma monoboia cercada por uma barreira de contenção, o que impediu que o combustível se espalhasse por sobre o espelho d’água.

O Inea investiga ainda se uma operação de derivados de petróleo para Manguinhos, que ocorreu na área do Armazém 30 na noite do último de domingo, pode ter contribuído para a presença de óleo na galeria de águas pluviais. A tubulação da refinaria, no entanto, não tem proximidade com a região e no momento da explosão a operação já
havia sido encerrada.

Ferido recebe alta

Os dois funcionários feridos na explosão de uma cisterna, na manhã desta segunda-feira, no Cais do Porto, no Caju, já saíram do Hospital Municipal Souza Aguiar para onde foram levados inicialmente. Paulo Bento Pereira, de 52 anos, sofreu uma fratura exposta no braço e foi tranferido para uma unidade de saúde particular, e Carlos Ribeiro, de 53 anos, recebeu alta após sofrer um corte também no braço.

A polícia investiga as causas da explosão no Cais do Porto. De acordo com o presidente da Companhia Docas do Rio, Jorge Luiz de Mello, um vazamento de óleo no local pode ser a causa do acidente. Mello explicou ainda que o forte cheiro de derivados do petróleo fez com que a área fosse isolada para evitar a contaminação da Baía de Guanabara.

Em nota, a Companhia Docas informou que a explosão ocorreu no armazém 30, área de operação da empresa Triunfo Logística. Um trabalhador da Triunfo morreu e outros dois ficaram feridos. Inicialmente, bombeiros informaram que um bueiro havia explodido.

Aumento da população causará falta de comida e combustível, diz ONU

Nina Chestney
Em Londres



O mundo está ficando sem tempo para garantir que haja alimentos, água e energia para atender a demanda de uma população em rápido crescimento e evitar que 3 bilhões de pessoas sejam levadas à pobreza, advertiu um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) na segunda-feira (30). 

Enquanto a população mundial parece preparada para crescer dos 7 bilhões de hoje para quase 9 bilhões até 2040 e o número de consumidores de classe média aumentar em 3 bilhões nos próximos 20 anos, a demanda por recursos crescerá exponencialmente.

Mesmo para 2030, o mundo precisará de ao menos 50% a mais de alimentos, 45% a mais de energia e 30% a mais de água, de acordo com as estimativas da ONU, em uma época em que o ambiente em modificação cria novos limites ao abastecimento.

Se o mundo fracassar em lidar com esses problemas, o risco é condenar 3 bilhões de pessoas à pobreza, afirmou o relatório.

Os esforços rumo ao desenvolvimento sustentável não são nem fortes nem profundos o suficiente e, além disso, falta vontade política, disse um painel da ONU voltado à sustentabilidade global.

"O atual modelo de desenvolvimento global é insustentável. Para alcançar a sustentabilidade, é necessária uma transformação na economia global", diz o relatório.

"Fazer remendos nas margens não será suficiente. A atual crise econômica global oferece uma oportunidade para reformas significativas."

Embora o número de pessoas vivendo na pobreza absoluta tenha caído dos 46 por cento em 1990 para 27% da população mundial e a economia global tenha crescido 75% desde 1992, as mudanças no estilo de vida e nos hábitos do consumidor colocaram uma pressão crescente sobre os recursos naturais.

Há mais 20 milhões de pessoas desnutridas agora do que no ano 2000; 5,2 milhões de hectares de floresta são perdidos anualmente (uma área do tamanho da Costa Rica); 85% de todos os estoques de pescaria estão super-explorados ou foram esgotados; e as emissões de dióxido de carbono subiram 38% entre 1990 e 2009, o que aumenta o risco de elevação no nível das marés e de mais episódios de clima extremo.

O painel, que fez 56 recomendações para que o desenvolvimento sustentável seja incluído na política econômica o mais rápido possível, disse que é necessária uma "nova política econômica".

"Vamos usar a próxima cúpula do Rio+20 para dar início a essa transição global rumo a um modelo de crescimento sustentável para o século 21 do qual o mundo precisa tanto", disse Connie Hedegaard, a comissária da União Europeia para o clima, em resposta ao relatório, referindo-se a uma cúpula da ONU sobre desenvolvimento sustentável em junho no Brasil.


Ação

Entre as recomendações, o painel pede que os governos concordem com uma série de metas de desenvolvimento sustentável que complementariam as oito Metas de Desenvolvimento do Milênio até 2015 e criariam uma estrutura para ação depois de 2015.

Eles devem trabalhar com organizações internacionais para criar uma "revolução perene", que ao menos duplique a produtividade ao mesmo tempo em que reduz o uso de recursos e evite mais perdas à biodiversidade, afirmou o relatório.

Os ecossistemas aquíferos e marinhos deverão ser administrados de maneira mais eficiente e deve haver acesso universal à energia sustentável até 2030.

Para tornar a economia mais sustentável, a precificação do carbono e dos recursos naturais deve ser estabelecida por meio de taxação, regulação ou esquemas de comercialização das emissões até 2020 e os subsídios ao combustível fóssil também devem acabar aos poucos até lá.

Os sistemas fiscais e de crédito dos países devem ser reformados para fornecer incentivos no longo prazo às práticas sustentáveis, assim como desincentivar as insustentáveis.

Os fundos de pensão públicos e de riqueza soberana, assim como os bancos de desenvolvimento e as agências de crédito para a exportação, devem adotar critérios de desenvolvimento sustentável a suas decisões de investimento, e as agências de controle do governo ou dos mercados de ações devem revisar as regulações para estimular o seu uso.

Os governos e cientistas também devem fortalecer a relação entre a política e a ciência ao examinar com regularidade a ciência por trás dos limites ambientais e a ONU deve considerar a possibilidade de nomear um conselheiro científico chefe ou um conselho para assessorar a organização, disse o relatório.

O documento está disponível no endereço http://www.un.org/gsp/.



RICARDO NOBLAT COLOCA O GUISO NO PESCOÇO DE SÉRGIO SCHETTINO CABRAL E SUGERE ABERTURA DE SUA AGENDA DE VIAGENS

O jornalista Ricardo Noblat parece estar querendo quebrar o muro de silêncio que envolve as viagens do (des) governador Sérgio Schettino Cabral. Afinal, a sua coluna de hoje que circula no Jornal O GLOBO se dedica ao até agora omitido assunto das infindáveis viagens secretivas de Sérgio Schettino Cabral.

Vamos ver qual dos duas entidades que habitam o corpo de Sérgio Schettino Cabral vai se manifestar em relação à sugestão de Ricardo Noblat: o caboclo que porta impedioso a caneta que veta quaisquer leis que afrontem os interesses dos clientes de sua esposa, ou o caboclo fujão que se manifesta toda vez que a coisa fica ruim. É só sentar, ler a coluna de Ricardo Noblat e ver qual dos dois caboclos Sérgio Schettino Cabral vai incorporar.

O Brasil reinventa o totalitarismo – a nova máquina policial

“Estamos dentro de uma espiral de violência e repressão policial que ultrapassa a média histórica, já extremamente alta, que caracterizou sempre a história de um país elitista e discriminador.”

Bajonas Teixeira de Brito Junior*

Há muitos sintomas que hoje indicam a eclosão de uma forma peculiar de totalitarismo no Brasil. Thomas Mann, exilado durante a maior parte do tempo que durou o Terceiro Reich, definiu a Alemanha do período como o “bem que infeccionou”. O bem, porque o alemão era tradicionalmente conhecido por seu senso de ordem, disciplina, dedicação ao trabalho e obediência às leis. O agigantamento de alguns poucos sentimentos alemães (o anti-semitismo, o nacionalismo, a necessidade de obediência e hierarquia, o revanchismo, o misticismo) levaram à catástrofe. No Brasil de hoje, ainda temos que descobrir o que está por trás dos traços totalitários que se avolumam.

Observamos esses traços se ramificarem em diversas direções: nas alterações (sempre para cima) dos contratos bilionários das empreiteiras; nas concessões inconstitucionais para as obras da Copa e outros megaeventos esportivos — que, como tem enfatizado o professor Carlos Vainer, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano da UFRJ, assumem a forma de um efetivo Estado de Exceção, com as garantias constitucionais anuladas em benefício da especulação imobiliária e outros grandes interesses econômicos; o mesmo aparece nos projetos colossais, como o do Plano Nacional de Banda Larga, em que salta aos olhos o modo com que, como faca quente sobre a manteiga, os “parceiros” do governo federal infringem ou denunciam os acordos no mesmo dia em que os firmam e obtém os privilégios que Estado algum concederia.

Por fim, o que provoca estremecimento e pavor, temos as operações policiais destinadas aos pobres e aos movimentos sociais, cada vez mais aparatosas em que se pode admirar a pujança do aparelhamento da repressão: helicópteros blindados em sobrevôo rasante, enormes carros blindados, viaturas novinhas em folha, armaduras articuladas com proteção amortecedora e design futurista, semelhantes às dos soldados americanos no Iraque, veículos especiais para transporte rápido de grande quantidade de cavalos, utilização da cavalaria como técnica de cerco e perseguição, etc.

Uma atenção especial merece esse último aspecto, a força repressiva, em vista da escalada da violência policial que se cristalizou em diversos acontecimentos repulsivos nos últimos tempos. Para entender suas causas é preciso, primeiro, mostrar os fatos que se acumulam e, em seguida, buscar as raízes do presente surto de totalitarismo no país. Citamos alguns dos fatos marcantes:

1. 02 junho de 2011. Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Durante uma manifestação contra as altas tarifas dos ônibus e melhoria do transporte público, a tropa de choque local atua com grande violência contra estudantes universitários e secundaristas. O vídeo no You Tube pode ser visto aqui. E reproduzo parcialmente o pequeno, mas preciso, relato que acompanha o vídeo:

“Durante manifestação pacífica, o BME-ES (Batalhão de Missões Especiais do Espírito Santo [...] ) age com bombas, tiros de balas de borracha (muitos à queima-roupa), spray de pimenta e tapas/pontapés contra manifestantes desarmados (em sua maioria estudantes).

Detalhe 1: a tropa atira nos manifestantes antes de qualquer iniciativa de confronto por parte deles, apontando para dentro da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo), ferindo gente desde o pescoço (!) até o pé, inclusive acertando pessoas que não estavam na manifestação.

Detalhe 2: A tropa age sob ordem do governador Renato Casagrande, que havia baixado nota dizendo que abria mesa para diálogo com os manifestantes, mas não atenderia a nenhuma das reivindicações (no entender da autoridade facista, isso é abertura para diálogo).”

2. 21 de Outubro de 2011. Durante a greve de professores e estudantes da Universidade Federal de Rondônia (Unir) — contra a administração corrupta do reitor Januário Amaral, que se viu ao fim obrigado a renunciar e é hoje acusado pelo promotor do Ministério Público Estadual de Rondônia (MPRO) Pedro Abi-Eçad de ter liderado uma organização criminosa dentro da universidade — a Polícia Federal (PF) efetuou a prisão, não do reitor, mas de um professor presente nos protestos, o professor e doutor em história Valdir Aparecido de Souza. É interessante observar a perfeita calma e autocontrole do professor, característica da coragem sem arrogância, em contraste com a histeria dos policiais federais, que chegam a mostrar uma arma no momento da prisão arbitrária do docente. Parecem duas vertentes da humanidade, entre as quais não há ponte possível. O vídeo não deixa dúvidas.

3. 08 de novembro de 2011. A desocupação da USP. Um policial aponta a arma para o rosto de uma aluna. Cavalaria, tropa de choque, alarido de sirenes, explosões, bombas de gás lacrimogêneo, helicópteros voando próximos ao prédio. A moradia estudantil (CRUSP) fica sitiada por grande contingente policial. Enfim, cenas de horror e desespero. O saldo de 73 estudantes presos.

4. 09 de janeiro de 2012. Um estudante negro na USP foi tratado com extrema violência por um policial militar, levou tapas, foi arremessado contra os móveis que estavam no caminho, humilhado de forma assombrosa por um agente público em serviço. Isso foi feito, sem o menor escrúpulo e sem qualquer hesitação, diante de câmeras. Fica-se a imaginar o que acontece longe das câmeras.

5. 03 de janeiro de 2012. Longe das câmeras, acorrem as abordagens sempre cruéis e marcadas pela brutalidade. Um doutorando em Filosofia, em Barão Geraldo, Campinas, se atreveu a questionar a forma de tratamento dada por policiais aos jovens pobres e negros da localidade. Recebeu uma série de ameaças e teve que enfrentar vários constrangimentos, inclusive desfile de viaturas na sua porta. Não se intimidou e, num segundo questionamento das abordagens policiais, foi preso por “desacato”. Ele fez então, por temer represálias ainda mais graves, o relato dos fatos que foi publicado no site do Yahoo, na coluna de Walter Hupsel.

6. 05 de janeiro de 2012. Com os métodos truculentos que se tornaram a rotina da atividade policial nas ruas, se procede à “limpeza” da região da Cracolândia em São Paulo. O pretexto é o revigoramento do Centro. O motivo real, apontado por todos os movimentos sociais, é a simbiose de interesses políticos e especulação imobiliária. Na desocupação de Cracolândia, não só se desconsiderou qualquer ação para amenizar a síndrome de abstinência dos dependentes químicos, mas se explicitou o que está no íntimo do tratamento brutal oferecido pela polícia, e a política, aos miseráveis da sociedade brasileira: a Prefeitura de São Paulo declarou que sua estratégia se baseava em “dor e sofrimento” para atingir os seus objetivos. Veja-se a matéria doEstadão: SP usa ‘dor e sofrimento’ para acabar com cracolândia.

7. 22 de janeiro de 2012. Desocupação de Pinheirinho em São José dos Campos (SP). Reproduzo o texto de Raquel Rolnik que, junto com Walter Hupsel, tem sido uma das poucas vozes indignadas com a escalada policial: “Milhares de homens, mulheres, crianças e idosos moradores da ocupação Pinheirinho são surpreendidos por um cerco formado por helicópteros, carros blindados e mais de 1.800 homens armados da Polícia Militar. Além de terem sido interditadas as saídas da ocupação, foram cortados água, luz e telefone, e a ordem era que famílias se recolhessem para dar início ao processo de retirada. Determinados a resistir — já que a reintegração de posse havia sido suspensa na sexta feira – os moradores não aceitaram o comando, dando início a uma situação dramaticamente violenta que se prolongou durante todo o dia e que teve como resultado famílias desabrigadas, pessoas feridas, detenções e rumores, inclusive, sobre a existência de mortos.”

Os fatos listados deixam pouca margem a dúvidas. Sua concentração em janeiro de 2012, é sintomática. Estamos dentro de uma espiral de violência e repressão policial que ultrapassa a média histórica, já extremamente alta, que caracterizou sempre a história de um país elitista e discriminador. Um tripé repressivo, que envolve o judiciário, a polícia e a política, manipulando uma consciência pública cada vez mais debilitada, em que os próprios intelectuais praticamente se recolheram ao mais absoluto mutismo, salvo raríssimas exceções, está bem montado e, tudo indica, atuará daqui para frente sempre com maior ferocidade. Estamos já muito além de acontecimentos episódicos e passageiros. Há por trás de tudo isso um comércio de armamento, viaturas, blindados, helicópteros, munições, armas, etc. O Rio de Janeiro já é palco de uma das maiores feiras mundiais, a Feira Internacional de Segurança, para a aquisição de armamentos destinados à repressão pública.

O que já está em prática é um projeto, que foi articulado pelo então ministro da defesa, Nelson Jobim, que evocou à época a “expertise” adquirida pelo exército em conflitos urbanos na missão do Haiti, e cujos aspectos mais perturbadores tentamos apresentar num artigo publicado aqui nesse site em 2008 — Nelson Jobim e o projeto de super polícia. Uma conclusão que se pode tirar nessa altura é a seguinte: se um ministro da defesa é quem articula um projeto policial, em que o exército, a marinha e aeronáutica são peças decisivas, então o inimigo contra o qual o país pretende se defender é um inimigo interno. Ao longo da história, nos regimes totalitários, o ponto crucial foi sempre o domínio sob o aparato policial visando a liquidação do “inimigo interno”.

O que não é fácil de compreender é como, no governo de um partido que sempre se disse comprometido com as causas populares, foi chocado o ovo da serpente. Enquanto há pouco mais de uma década discutia-se ainda o absurdo da existência de duas polícias, a militar e a civil, e se falava na extinção de uma delas para a consolidação do sistema democrático, o que acompanhamos nos últimos tempos foi o reforço de toda a maquinaria policial: o uso da Polícia Federal contra mobilizações sociais (como no caso da Unir, citado acima), a criação da Força Nacional de Segurança Pública, a mobilização das Forças Armadas para operações em favelas, o fortalecimento da divisão da polícia em Civil e Militar, a quase que autonomia dos batalhões especiais, como o Bope.

Surtos de totalitarismo se deram em muitas partes do mundo. Hannah Arendt e Herbert Marcuse, para citar um caso, apontaram diversos desses sintomas nos EUA nas décadas posteriores à Segunda Guerra. Pode-se dizer que desde a chamada guerra ao terror esses traços não só retornaram como se revestiram de evidência muito maior. No cenário da crise econômica iniciada em 2008, originada de acordo com vários economistas pelos gastos astronômicos da guerra no Iraque e no Afeganistão, o combate ao terror teve sua prioridade rebaixada. Já o Brasil, nesse mesmo período, criou sua própria versão da guerra ao terror, na forma da guerra contra o tráfico. Para compreender seu sentido, é preciso dar uma passada de olhos sobre nossa história colonial e ver, como nela, se enraíza a figura do “inimigo interno”. Só assim compreenderemos como o nosso Ministério da Defesa pode, hoje, estar envolvido no combate dentro do front interno.

O inimigo a ser erradicado, desde os primórdios da colonização, tem sido entre nós principalmente o inimigo interno. Esse inimigo foi, primeiramente, desenhado pela pena da teologia dos padres como o portador por excelência do mal. Primeiros foram os indígenas, depois os escravos, quilombolas, negros livres e mestiços, e, atualmente, esses inimigos são os que se abrigam em favelas, ocupações e invasões. O historiador inglês Charles Boxer definiu o princípio fundamental da colonização portuguesa nos termos seguintes: “Salvar suas as almas imortais associado com o anseio de escravizar os seus corpos vis”. Trata-se de uma troca metafísica, em que os padres e a Igreja Católica representam a salvação, impondo o cristianismo aonde chegavam e, como complemento inseparável, os traficantes escravistas, os bandeirantes, os capitães-do-mato e as forças policiais, garantiam a subjugação.

Ser escravo era o preço pago por ser cristianizado e adquirir uma alma imortal. O Brasil, ou aquilo que veio a ser chamado Brasil, era visto como um paraíso terreno (o que, na perspectiva portuguesa, significava um campo aberto à exploração extrativa indefinida) habitado, porém, por demônios que deviam ser redimidos ao mesmo tempo pela cruz e pela espada. Um dos melhores exemplos dessa parceria é a do major Vidigal, chefe de polícia no Rio de Janeiro na época em que a Corte esteve no Brasil. Além de reprimir barbaramente qualquer rebeldia negra na cidade, Vidigal destruía os quilombos próximos e, em troca, recebia presentes e homenagens.

Como é bem conhecido, os monges beneditinos o presentearam com uma grande área no Morro Dois Irmãos, em 1820, por serviços prestados. Que interesses teriam os beneditinos? Um viajante, poucas décadas antes, anotou que eles possuíam 1,2 mil escravos, que usavam na exploração de quatro enormes engenhos de açúcar. Assim, o major Vidigal, na sua época, foi uma engrenagem fundamental para assegurar os bens da ordem. Isto talvez já estivesse esquecido, ou enterrado sob grossa crosta de dissimulação histórica, não fosse um detalhe irônico: o terreno doado a Vidigal foi ocupado posteriormente por Sem Tetos, e recebeu o nome de Favela do Vidigal.

O Brasil foi dominado por quatro séculos por traficantes. As maiores fortunas nesses 400 anos de escravidão eram as dos traficantes de escravos e, abaixo deles, a dos exploradores de mão de obra escrava nas monoculturas, como os beneditinos (ver o livro de João Luis Ribeiro Fragoso,Homens de grossa aventura). Mas esses traficantes, motores de uma trama genocida que trucidou mais de 10 milhões de escravos, só na América, nunca foram punidos. Ao contrário. Foram presenteados com títulos de nobreza, premiados, promovidos, honrados e festejados. Como paradoxo histórico bem característico do Brasil, deparamos hoje com uma guerra aberta contra os descendentes das vítimas da escravização. E essa guerra foi chamada de guerra contra o tráfico.

A nossa guerra contra o tráfico segue o modelo colonial da guerra ao inimigo interno. Em todas as justificativas dos atos violentos praticados pelas forças policiais, se repete o mesmo relatório: “foram encontradas tais e tais armas e munições; tantos e tantos quilos de cocaína; presos diversos evadidos do sistema prisional, etc.”. A lógica permanece, sem tirar nem pôr, a lógica da colonização sendo os lugares atacados os que abrigam os maiores contingentes de herdeiros do pesadelo escravista, isto é, o maior contingente de negros e mestiços. Por isso é engraçado ler coisas como essa:

“O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) disse nesta segunda-feira que a Policia Militar transformou em “praça de guerra” a ação de reintegração de posse da área invadida do Pinheirinho, em São José dos Campos (97 km de São Paulo), determinada pela Justiça estadual.” Folha.com: Ministro chama de “praça de guerra” episódio em Pinheirinho.

Mas como é possível tanto cinismo, se os instrumentos dessa guerra foram criados por esse governo e por sua base política?

Enquanto isso os grandes interesses, os negócios gigantescos, predatórios para o Estado, mas indispensáveis para a política, têm seus contratos bilionários sempre reajustados para cima, recebem todo tipo de incentivo, e se esquivam a toda responsabilidade. Compara-se isso com a explosão dos trabalhadores dos canteiros de obras de Jirau, que forma um afresco histórico dos mais claros sobre o Brasil de hoje. Milhares de trabalhadores em condições miseráveis de trabalho aguardam providência de um Estado que não passa de um simulacro de garantidor do interesse público. Em 2009, 38 trabalhadores foram libertados de condições de trabalho análogo à escravidão; em 2010, já foram 330 os autos de infração por crimes trabalhistas e em 2011, no mês de abril, depois de compreenderem que nenhum apoio viria do governo federal, os trabalhadores cederam ao desespero e promoveram uma explosão de fúria. Só então o Estado se fez presente: a Força de Segurança Nacional, veloz como um raio, apareceu e tocou para longe os trabalhadores, demitidos e expulsos da área. Nenhuma reparação lhes foi dada ou prometida. Agora, surge o conflito entre as empreiteiras e as seguradoras para o pagamento dos prejuízos e, como era de se esperar, o BNDES já entrou na discussão. E a discussão diz respeito ao pagamento, ao consórcio construtor, de uma soma que pode chegar a US$ 1,3 bilhão. Indenização alguma cabe aos trabalhadores tratados como bestas de carga.

É interessante notar que, ao que parece, todas aquelas operações grandiosas da polícia federal contra os muito ricos (como a Operação Satiagraha), não deram em nada. Ou entraram no processador lento dos tribunais, na caverna obscura na qual muitos processos entram, porém, raros saem. Serviram só para proibir as “humilhações” e “exposições” a que antes eram sujeitos banqueiros ou especuladores: fim das algemas, imposição do segredo de justiça, etc. Por outro lado, na esfera dos conflitos sociais normais em toda sociedade democrática, a polícia das balas de borracha, dos gases de pimenta e lacrimogêneo, das pancadas e humilhações, das mortes que no meio do tumulto nunca são responsabilidade dos agentes públicos, avançam sobre um território novo e inexplorado: o público universitário.

Ao mesmo tempo em que se reforça sobre as periferias, favelas e ocupações, em que intimida e maltrata mais os negros e mestiços do que nunca, a polícia começa a sentir o gostinho de estender a mão também a um público mais seleto, carne nova, de classe média, que, até pouco tempo, não fazia parte do seu cardápio habitual: alunos do ensino secundário, estudantes de universidades federais, doutorandos, professores doutores.

Como foi possível ao PT criar esse aparelho repressivo? Foi possível porque para os intelectuais, políticos e setores religiosos que formam o partido, a grande referência permanece a Europa e a sua brancura mítica. Ao pensar em refazer as estruturas sociais do país, em desenvolvimento e modernização, o inconsciente do PT almeja por algo parecido com o que considera o Bem, isto é, algo semelhante a um país europeu e uma população branca. Nessa lógica, as massas de negros, mulatos, mestiços, e também índios, não esqueçamos deles — todas essas faces estranhas e inquietantes para quem só vê beleza em corpos brancos — aparecem como um estorvo estético, um desvio moral e um sinal da vocação para o crime. As classes dominantes delinqüentes sempre fizeram assim: transferiram a sua própria carga criminosa para seus subordinados sociais.

O que fazer com eles? O PT pôs em prática a mesma teologia e a mesma interação de público e privado da nossa história colonial. Os brancos, e quanto mais brancos melhor, os donos de empreiteiras, bancos, latifundiários, especuladores, etc., afiguram o Bem. A ‘plebe’ descendente da escravidão, surge como a raiz de todo Mal. Esse mal, o pior mal, o mais concentrado, foi fixado na figura do traficante — síntese e prova do mal que se engendra nas favelas. Os pobres, em sua grande maioria negros e mestiços, os índios, devem ser salvos pelo Bem, mas por essa salvação têm que pagar um preço muito alto. Esse preço é hoje, não mais a cristianização meramente cosmética, mas a submissão à ordem pela violência, como se, em sua essência, esses setores constituíssem focos de infecção social. As UPPs, em cujo projeto inicial se incluía muros e guaritas em torno das favelas (Ver o nosso artigo publicado aqui no site: A Alpha Ville das Comunidades – a Alpha Vella) mostram claramente isso. Repetem os aldeamentos e missões, em que os índios eram totalmente extraídos de sua cultura original e submetidos a mais rígida ordem sob a vigilância cruel dos monges.

O que o PT parece perder de vista é que, como sempre acontece na história com os partidos fracos, gelatinosos, dispostos a todas as concessões e vilanias, a sua política policial se voltará, mais cedo ou mais tarde, contra ele mesmo. E isso pode acontecer logo que, despido de sua auréola e credibilidade, por força da violência que criou e tem gerido, deixe de ser um instrumento útil nas garras da fauna de bilionários que hoje se alimenta do Estado. Nesse momento, o criador será entregue como repasto para sua criatura.

PS: Tenho muita simpatia pelos meus colegas que se dedicam aos estudos pós-coloniais, especialmente pela seriedade de seus trabalhos acadêmicos e pelo seu engajamento crítico, mas, não obstante isso, para o caso brasileiro, não posso deixar de alimentar sérias dúvidas. Em que sentido o Brasil se mostra como uma sociedade pós-colonial? O que caracteriza a nossa história são as mudanças sem rupturas, as transições transacionadas. Assim, falar em “pós” pressupõe um corte efetivo, coisa que nunca ocorreu em nossa história marcada pela ambivalência. Parece-me muito mais explicativa a idéia de neo-escravismo, sublinhando a velha continuidade da corrupção, da violência contra os cativos, dos privilégios escancarados para as elites.

*Doutor em Filosofia, autor dos livros Lógica do disparate, Método e delírio e Lógica dos fantasmas. Foi duas vezes premiado pelo Ministério da Cultura por seus ensaios sobre o pensamento social e cultura no Brasil. É coordenador da revista eletrônica, Revista Humanas , órgão de divulgação científica da Cátedra Unesco de Multilinguismo Digital (Unicamp) e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Ufes



Sérgio Cabral veta lei que prejudicaria cliente de sua mulher



Jorge Lourenço


O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), vetou nesta terça-feira (10/01), um projeto de lei que prejudicaria o Metrô Rio, cliente do escritório de advocacia de sua esposa, Adriana Ancelmo. O PL 560/11, do deputado estadual André Lazaroni (PMDB), permitia aos usuários do metrô carioca a retirarem o valor retido no cartão pré-pago do serviço em dinheiro. 

Justificativa

No veto, publicado no Diário Oficial, Cabral justifica que o projeto de lei acarretaria um prejuízo não previsto no contrato de licitação ao Metrô Rio. O governador também alegou que a lei invade uma esfera que cabe apenas ao Executivo. 

Venda arbitrária

Na redação do PL, André Lazaroni ressaltou que o preço mínimo de R$ 10 para a venda dos cartões pré-pagos do metrô forçavam os usuários do serviço a usarem os créditos adquiridos. 

Repeteco

Não é a primeira vez que Sérgio Cabral beneficia empresas defendidas pelo escritório de advocacia de sua esposa. O governador também prorrogou o contrato de concessão dos serviços ferroviários do Rio de Janeiro à Supervia e alterou a demarcação de uma Área de Proteção Ambiental em Ilha Grande, beneficiando proprietários de residências construídas ilegalmente na região. Tanto a Supervia quanto o apresentador Luciano Huck, dono de uma das residências irregulares, são clientes do escritório de Adriana Ancelmo.



A MANIFESTAÇÃO QUE, SEGUNDO A IMPRENSA CARIOCA, NÃO ACONTECEU
No dia de ontem milhares de policiais e bombeiros se uniram para realizar uma massiva manifestação que começou na Praia de Copacabana demandando melhores salários. Isso virou manchete nos principais jornais do Rio de Janeiro, certo? Errado! 

É que hoje nem O DIA ou O GLOBO dão uma linha sequer sobre o assunto, traindo a obrigação de informar a população sobre o que realmente anda acontecendo no nosso estado. Este "silêncio" busca, é claro, dar uma mãozinha ao (des) governador Sérgio Schettino Cabral e seu (des) governo.

O pior é que se uma greve vier a acontecer, deixando o Rio de Janeiro sem polícia ou bombeiros, os jornais ainda virão a público chamando os servidores de vândalos ou irresponsáveis, como já fez o (des) governador Schettino Cabral.

domingo, 29 de janeiro de 2012

O fascismo social e o silêncio conivente da esquerda

Brasil: inimigo meu

por Túlio Muniz

Em Agosto de 2011, o Observatório da Imprensa publicou artigo de minha autoria, Por novos discursos midiáticos, no qual abordei o conceito de “fascismo social”, de Boaventura Santos, e adiantei o que chamo de Dispositivo Pós-Colonial, ou DPC.

Relembrando: o “fascismo social” é “um tipo de regime no qual predomina a lógica dos mercados financeiros em detrimento de grandes setores das populações, gradativamente distanciados e excluídos do campo de direitos sociais adquiridos nas últimas décadas. O risco, alerta Santos, é o da ingovernabilidade”.

Presente no Forum Social de Porto Alegre quando da expulsão dos moradores do Pinheirinho, Santos, ainda que não referisse diretamente ao seu próprio conceito, demonstrou como o “fascismo social” é presente na sociedade brasileira, e reafirmou a necessidade de se contrapor a ações como aquela, que, com o aval do Estado, beneficiam setores dominantes e opressores em detrimento do bem público e social (ver aqui).

O caso do Pinheirinho é grave e preocupante, e alinha-se a outros acontecimentos recentes de violência estatal. Entre outros, estão a carga da polícia militar contra estudantes em São Paulo (USP) e contra professores cearenses, ambos em 2011. Vale lembrar que, já neste ano, a polícia militar foi autorizada pelos governos do Espirítio Santo, do Piauí e de Pernambuco a carregar contra estudantes, em protestos contra reajustes do transporte coletivo.

Aqui há perigo. SP está nas mãos dos debilitados tucanos, do PSDB que há quase duas décadas se aliou à direita financista, mas CE, PI, PE e ES são estados governador pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), o que demonstra que as cessões ao “fascismo social” não são exclusivos da direita, extravasaram também para a centro-esquerda, e às vezes com o silêncio conivente de partidos de esquerda.

Nos meio de comunicação convencionais, as abordagens críticas ao “fascimo social”, permanecem restritas aos espaços já consolidados (revista Carta Capital, Rede Record), com raras e bravas exceções, como a do jornalista Ricardo Boechat em seus comentários na Rádio Bandeirantes.

E eis que em meio ao caos ressurge com força o que outrora chamei de DPC, discursos e estratégias que os governos exercem sobre suas próprias populações, “impondo normas que visam tanto a justificar ocupações e dominação de territórios estrangeiros, quanto à imposição de determinações internas. Tais normas são geradas por governantes que necessitam coagir as populações nacionais e são sustentadas e difundidas pela mídia”.

A Rede Globo (não por acaso) permanece sendo o campo privilegiado de propagação do DPC. Se na TV aberta se esboça um certo pudor e contenção, estes se desnudam nos canais fechados da Globo, o que ficou patente em entrevistas recentes conduzidas por Monica Waldvogel.

Para além do bem e do mal, o DPC resulta no que se pretende, ou seja, coagir populações com discurso institucional legalista e higienista, conforme diz a Folha de S.Paulo de domingo, 29 de Janeiro: “Polícia na cracolândia é aprovada por 82% em SP”.

O que fazer nesse campo confuso, onde tanto o “fascismo social” quanto o DPC são gerados à esquerda e à direita? Talvez, estar atentos para o que muitos vem chamando de período pós-institucionais, a eclosão de movimentos não necessariamente estruturados ou vinculados à organizações governamentais e não-governamentais (nesse sentido sugiro leitura de análise de [Emir] Sader, aqui).

Entretanto, permanece relevante o papel de pensadores que se inserem na mídia para tratar de casos que passam ao largo da “neutralidade” jornalística, e exemplo disso é o artigo “Razão, desrazão”, do sociólogo e filósofo Daniel Lins no jornal O POVO de 29 de Janeiro, acerca da violência estatal no Pinheirinho: “A exclusão da loucura emerge no domínio das instituições mediadas pelo enclausuramento psiquiátrico ou social. Exilado em sua diferença intratável, o destino do louco ou do pobre é o confinamento moral, social”.

No mesmo nível de importância no combate ao DPC, estão os sites e blogues no estilo do Observatório, e tantos outros (viomundo, conversaafiada, escrevinhador, luiznassif, cartamaior, etc). Estes, mais do que a mídia convencional, primam pela proximidade entre jornalismo e pensamento. Portanto, parece urgente e preciso, cada vez mais, reforçar e manter a aliança entre opinião e reflexão, esta arma poderosa que causa horror aos jornalões, às TVs e ao poder institucionalizado.

Pinheirinho, polícia contra estudantes e professores, magistrados nababos, prédios desabando, mídia sem regulação. O Brasil, definitivamente, não precisa de inimigos externos.

*Túlio Muniz é jornalista, historiador e doutor em Sociologia pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra.

PS do Viomundo: Não há combate possível ao fascismo social sem democratização da mídia; mídia concentrada, ascensão social despolitizada — calcada no consumismo — e governo por pesquisas de opinião são ingredientes essenciais para fomentar o “discurso da ordem”, que existe para bloquear a expansão dos direitos sociais.