sábado, 16 de março de 2013

Operação flagra trabalho análogo à escravidão em distribuição de listas telefônicas em Salvador


NELSON BARROS NETO DE SALVADOR

Um grupo de 17 pessoas do Rio de Janeiro que distribuía listas telefônicas de porta em porta, em Salvador, foi encontrado em condições análogas à da escravidão na noite desta sexta-feira (15), segundo o Ministério Público do Trabalho na Bahia.

A operação, em conjunto com a Polícia Federal, prendeu em flagrante dois homens acusados de serem os aliciadores do grupo, que prestava serviço à empresa GAF Logística, sediada no Rio.

O procurador do Trabalho Jairo Sento-Sé diz que o expediente chegava a 12 horas por dia e não havia pagamento de salário. "Eles ganhavam de R$ 2 a R$ 5 de esmola de quem recebia as listas", diz.

Nas duas casas em que se dividiam, apenas com colchões e um único banheiro, os trabalhadores dormiam em cima das próprias listas telefônicas, "nas condições mais precárias possíveis", conforme Sento-Sé.

A Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do governo baiano encaminhou o grupo para um hotel, onde os trabalhadores deverão aguardar a assinatura das carteiras de trabalho e, em seguida, voltar para casa. As despesas serão cobradas da empresa.

A suspeita é de que o número de pessoas aliciadas possa chegar a mais de 50, com a existência do mesmo esquema em outros dois bairros da cidade.

Darcilínia Gomes da Silva, 58, uma das pessoas que chegaram no final de fevereiro a Salvador, disse aos auditores da operação que já faz esse tipo de atividade há cinco anos.

"Uma pessoa da minha idade não acha emprego fácil. Então prefiro esse trabalho e ganhar o que dá. Melhor do que nada", afirmou.

De acordo com o Ministério Público do Trabalho, o diretor da empresa, Gustavo Campilho, confirmou a contratação e se dispôs a ir a Salvador neste sábado (16) para iniciar o processo de indenização dos trabalhadores e esclarecer os fatos.

A Folha não conseguiu localizar Campilho. O telefone existente no site da GAF não funciona e o e-mail enviado pela reportagem ainda não havia sido respondido até a publicação desta reportagem.

As listas telefônicas pertencem à TeleListas.net, também com sede no Rio. Nenhum responsável pela empresa foi encontrado pela Folha neste sábado (16).